quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Congresso de Filologia na UERJ


Este foi o tema do trabalho que apresentei numa das mesas do congresso:
Eliminando barreiras: a distância entre a interpretação da lei 10098 e a realidade da acessibilidade

O objetivo do estudo é interpretar o texto da lei 10098 conhecida como lei da acessibilidade que propõe a eliminação de barreiras sociais a pessoas com deficiência. Este trabalho configura-se como um estudo teórico e como um relato de experiência profissional, que apresenta o esporte como um instrumento para inclusão social. Discriminação e omissão marcaram a história de pessoas com deficiência, pessoas invisíveis socialmente. No entanto, as vidas dessas pessoas passaram por mudanças significativas quando tiveram contato com práticas esportivas. O esporte viabilizou além de uma nova inserção social, uma ressignificação identitária produzindo melhorias concretas nas condições de vidas de pessoas denominadas deficientes.  A lei 10098 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade para pessoas com deficiência.  Esta análise revelou uma história marcada pela exclusão: de famílias simples e desinformadas, essas pessoas desconhecem direitos  elementares; revelou, também, avanços na legislação que discute a eliminação das barreiras sociais a pessoas com deficiência através do esporte.

Palavras- chave: Lei de acessibilidade, inclusão social, pessoas com deficiência, interpretação da lei, análise de discurso.

"Paralímpico ou Paraolímpico"

Antes, durante e após as paraolimpíadas de Londres continua a grande dúvida na cabeça de milhares de pessoas sobre o termo correto a ser empregado. Eu sempre falei paraolímpico e assim continuarei, mas pra quem ainda tem dúvidas, vejam esta reportagem:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/1149224-paralimpico-haja-bobagem-e-submissao.shtml


O meu querido amigo, vizinho, filho e irmão Márcio Ribeiro me pergunta, com o seu falar italianado e com influência do linguajar da Casa Verde, bairro paulistano em que passou boa parte da vida: "Ma que história é essa de 'paralímpico'? Emburreci, emburrecemos todos?". E não foi só o Márcio. Vários leitores escreveram diretamente para o jornal ou para mim para pedir explicações.
Não, meu caro Márcio, não emburreceste. Nem tu nem os leitores que se manifestaram. E, é bom que se diga logo, a Folha não embarcou nessa canoa furadésima, furadissíssima.
Parece que o Comitê Paralímpico Brasileiro adotou a forma "paralímpico" para se aproximar da grafia do nome do comitê internacional ("paralympic"). Por sinal, o de Portugal também emprega essa aberração --o deles se chama "Comité Paralímpico de Portugal" (com acento agudo mesmo em "comité").
É bom lembrar que o "par(a)-" da legítima forma portuguesa "paraolímpico" vem do grego, em que, de acordo com o "Houaiss", tem o sentido de "junto; ao lado de; ao longo de; para além de". Na nossa língua, ainda de acordo com o "Houaiss", esse prefixo ocorre com o sentido de "proximidade" ("paratireoide", "parágrafo"), de "oposição" ("paradoxo"), de "para além de" ("parapsicologia"), de "distúrbio" ("paraplegia", "paralexia") ou de "semelhança" ("parastêmone"). Os jogos são paraolímpicos porque são disputados à semelhança dos olímpicos.
Talvez seja desnecessário lembrar que esse "par(a)-" nada tem que ver com o "para" de "paraquedas" ou "para-raios", que é do verbo "parar" (não esqueçamos que o infame "Des/Acordo Ortográfico" eliminou o acento agudo da forma verbal "para").
Pois bem. A formação de "paraolímpico" é semelhante à de termos como "gastroenterologista", "gastroenterite", "hidroelétrico/a", "socioeconômico", das quais existem formas variantes, em que se suprime a vogal/fonema final do primeiro elemento (mas nunca a vogal/fonema inicial do segundo elemento): "gastrenterologia", "gastrenterite", "hidrelétrico/a", "socieconômico". O uso não registra preferência por um determinado tipo de processo: se tomarmos a dupla "hidroelétrico/hidrelétrico", por exemplo, veremos que a mais usada sem dúvida é a segunda; se tomarmos "socioeconômico/socieconômico", veremos que a vitória é da primeira.
O fato é que em português poderíamos perfeitamente ter também a forma "parolímpico", mas nunca "paralímpico", que, pelo jeito, não passa de macaquice, explicitação do invencível complexo de vira-lata (como dizia o grande Nélson Rodrigues). Pelo que sei, em inglês... Bem, dane-se o inglês. Danem-se os Estados Unidos, a Inglaterra e a língua inglesa.
Alta fonte de uma das nossas mais importantes emissoras de rádio me disse que o Comitê Paralímpico Brasileiro fez pressão para que a emissora adotasse a bobagem, digo, a forma americanoide, anglicoide ou seja lá o que for. A farsa é tão grande que, em algumas emissoras de rádio e de TV, os repórteres (que seguem ordens superiores) se esforçam para pronunciar a aberração, mas os atletas paraolímpicos logo se encarregam de pôr as coisas nos devidos lugares, já que, quando entrevistados, dão de ombros para a bobagem recém-pronunciada pelo entrevistador e dizem "paraolímpico", "paraolimpíada/s".
Eu gostaria também de trocar duas palavras sobre "brasuca/brazuca" e sobre o barulho causado pelo "porque" da presidente Dilma, mas o espaço acabou. Trato disso na semana que vem.
É isso.