quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Conhecido como um homem bom...Pistorius...Isso também é esporte.

Se você não está familiarizado com o crime, um pequeno resumo: Pistorius é aquele atleta que correu nas Olimpíadas de Londres de 2012 com próteses nas duas pernas. Todo mundo aplaudiu, achou o máximo, se inspirou na história do homem que, apesar de tudo, não desistiu do esporte.

Um vencedor, dissemos.

Esse mesmo homem matou a tiros a namorada na última quinta-feira. Primeiro, a notícia foi a de que ela teria entrado sorrateiramente na casa do atleta para surpreendê-lo e ele a confundiu com um ladrão.
Os fatos foram se desenrolando e, até agora, o que se sabe é que a modelo Reeva Steenkamp foi morta no banheiro da suíte. Os últimos detalhes revelados indicam que ambos estavam deitados na cama (a posição dos lençóis mostra que havia duas pessoas deitadas). Reeva e Pistorius vestiam roupas de dormir e chegaram ao condomínio do atleta às 18h do dia anterior. Duas horas antes do assassinato, a polícia e os seguranças do condomínio foram chamados porque os vizinhos ouviram uma briga entre o casal.
Agora, surgiu na cena um bastão de críquete coberto de sangue – além de Reeva ter ferimentos no crânio. Um dos tiros atingiu o quadril da modelo, que teria se escondido no banheiro – e os outros três tiros foram na cabeça de Reeva. Machucados na mão dela indicam que ela teria tentado “proteger” a própria cabeça.
A história é toda horrenda e assustadora. Mas ela nos aponta coisas que insistimos em não enxergar. A primeira delas é que violência doméstica acontece em qualquer classe social. Em segundo lugar, que pessoas “acima de qualquer suspeita” na vida social podem ser, na verdade, criminosos frios e agressivos. Em terceiro, que esses crimes poderiam ter sido evitados – no caso de Pistorius e Reeva, a polícia já havia sido chamada outras vezes à casa do atleta em razão de distúrbios entre os dois.
Quarto e muito, muito importante: a cobertura midiática de crimes como esse insiste em culpabilizar (ou apagar) a vítima, costumeiramente mostrando o agressor como um cara bacana, “que ama demais”. Foi assim no caso Eloá e no de Ângela Diniz. Nesse último, o assassino Doca Street matou a companheira para “proteger sua honra” e “sob violenta emoção”. E chegou a ser absolvido no primeiro julgamento (e condenado depois a 15 anos de prisão).
Chega de romantizar crimes contra mulheres.
Não há nada romântico em matar alguém.
Isso não é “crime passional”. É violência de gênero. É ainda mais grave do que um latrocínio (roubo seguido de morte), porque essas pessoas confiaram nos parceiros e decidiram levar uma vida com eles.
Isso também é esporte.

ISSO TAMBÉM É ESPORTE

Não é piada.
Morreu um torcedor ontem, aparentemente vítima de um confronto entre torcedores do Corinthians e do San José. Cerca de 12h depois do ocorrido, a Conmebol, entidade que comanda o futebol sul-americano, tinha em seu site apenas um comunicado  reproduzindo a carta enviada ao presidente da Associação de Futebol da Argentina, congratulando-o pelos 120 anos da instituição.

E talvez seja a melhor forma de os dirigentes do futebol na América do Sul dizerem o que pensam sobre o esporte que comandam.
A morte do jovem em Oruro não causa espanto. Para quem acompanha o futebol desde que se conhece por gente, não dá para dizer que isso nunca iria acontecer. É mais uma, entre tantas outras, que são fruto do descaso de quem está no comando com quem é a razão de o esporte ser tão popular.
A morte em Oruro é fruto de um modelo histórico de que o poder no esporte está dividido numa espécie de confraria de amigos, cuja única preocupação é manter a mesma turma no comando. Quem quiser fazer parte do clube, não pode se opor ao status quo, não pode ir contra o chefe, tem de tomar cuidado ao arquitetar um plano para tomar o poder.
Ir a um estádio de futebol na América do Sul não é uma aventura. Isso faz com que os estádios sejam lugares apenas para os fanáticos, aqueles que podem matar ou morrer pelo seu time de coração. O que, claro, não justifica o ocorrido em Oruro, mas que explica o que acontece há tempos nesta região.
Simplesmente SURREAL. Isso também é esporte.